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Registros históricos do uso de pontos médios?

Os astrólogos modernos autores de livros sobre midpoints adoram citar que Guido Bonatti advogava o uso de midpoints (ou pontos médios) na sua prática.

Eu tenho o Liber Astronomiae, o li de cabo a rabo, e NUNCA encontrei o tal trecho.


Também tem esse site, muito bom por sinal, que atribui a Ptolomeu a primeira citação sobre midpoints.

Bitch, please. É mais fácil ler o Tetrabiblos do que o Liber Astronomiae, e qualquer um verá que isso é mentira.

As pessoas adoram citar autores antigos para ratificar suas posições intelectuais, principalmente em se tratando de Astrologia, um meio que carece de pesquisas sérias e, devido a isso, se apoia no passado glorioso de quando era considerada uma ciência essencial à atividade humana.

Estou dando uma de advogado do diabo apenas para mostrar que não se pode confiar em tudo que se lê por aí. Analise tudo, e retenha o que for bom, o conselho bíblico aqui cai como uma luva. Até porque são bons autores que cometem esse erro: Reinhold Ebertin, Robert Hand... E jogar toda a produção desses excelentes astrólogos na lata de lixo da história apenas por um deslize é uma crueldade incongruente, pois até o leitor mais empedernido é capaz de cometê-lo.

PODE SER que tais autores tenham percebido algum conceito citado nos clássicos como sendo similar aos midpoints, e aqui eu posso enumerar uma hipótese.

Enquadramento planetário

Quando dois planetas cercam um outro planeta X, diz-se que o mesmo está cercado ou enquadrado. Um planeta pode ser cercado por benéficos ou por maléficos, sofrendo as consequências óbvias disso.

A grande questão é que o cercamento de dois planetas em torno de um pode ocorrer 
  1. no mesmo signo ou 
  2. em signos vizinhos, 
  3. além de ser por aspecto. 

Vamos dar exemplos dos casos acima usando o planeta marte como o cercado. 

Em 1, marte estaria cercado se ele estivesse em 10 de libra, enquanto vênus estivesse em 04 e Júpiter em 13. Em 3, marte estaria cercado se estivesse se separando de uma quadratura de Saturno e caminhasse para uma conjunção ao Sol. 

O que mais desafia os conceitos astrológicos clássicos é a hipótese 2. Como exemplo, uma vez marte estando em libra, Saturno e Júpiter os cercariam se estivesse em Virgem e em Escorpião, respectivamente. Entretanto, tais signos não aspectam Libra, o que colocaria estes planetas como incapazes de influenciar marte, ao menos no mapa natal sem direções primárias (o que moveria esses planetas ao longo dos anos a um encontro com marte). Entretanto, o cercamento planetário nesse caso é aceito.

Essa seria a única possibilidade de levar em consideração a influência de dois planetas sobre um terceiro estando em signos vizinhos: considerar que o planeta cercado estivesse no meio ponto dos planetas que os cercam. 

Esta consideração introduziria um conceito de astrologia moderna de forma anacrônica à prática astrológica medieval, apenas para tentar entender o porquê de se considerar dois planetas que não aspectam os signos vizinhos e mesmo assim são capazes de influenciá-lo.

Outra coisa plausível nesse exemplo seria considerar o aspecto de semi-sextil (30°) e dizer que os planetas em signos vizinhos estariam em semi-sextil com o planeta no signo do meio... Tal consideração seria tão anacrônica quanto a hipótese dos midpoints, uma vez que esse aspecto não era considerado pelos astrólogos clássicos. Mas como os autores queriam apenas ratificar a teoria dos midpoints usando o endorsement de autores clássicos, a hipótese dos semi-sextis não foi levada em consideração.

Toda essa minha picuinha de pegar um deslize dos autores e dissecá-lo a fundo serve apenas para que eu comprove o ponto de vista de que uma técnica não precisa ser antiga para ser boa, desde que consiga prever com acurácia, e que sua eficácia possa ser reproduzida de forma similar em contextos e com astrólogos diferentes. Porque apenas usar a astrologia para explicar as coisas depois delas acontecerem é como dirigir um carro apenas olhando o espelho retrovisor.

E se os midpoints foram criados no final do século XIX? Qual o problema? Se eles funcionam (como eu já vi várias vezes), devo jogá-las fora apenas por não ter nenhum lastro da tradição? Decerto que essa questão incomode mais àqueles que passaram pela astrologia tradicional e clássica como eu... 




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